Mito 1: "Resveratrol é um potente ativador do gene da longevidade SIRT1."
A hipótese original, popularizada por pesquisadores como o Dr. David Sinclair, era que o resveratrol ativava diretamente a sirtuína 1 (SIRT1). Esse gene é considerado um mestre regulador da longevidade, e ativá-lo seria como imitar a Restrição Calórica (RC) — a única intervenção não genética comprovadamente capaz de aumentar a expectativa de vida em laboratório. Contrariando a hipótese que dominou a década, pesquisas mais recentes revelam que esta ligação direta é, na verdade, um elo fraco.
Diversas linhas de evidência científica começaram a questionar essa ação direta e específica. Uma pesquisa crucial realizada na PUC-RS com o peixe-zebra (Danio rerio), um modelo experimental consolidado, revelou que, em animais saudáveis, nem o resveratrol nem a Restrição Calórica alteraram a expressão do gene SIRT1.
Outros estudos cruciais apontaram que a ativação da SIRT1 observada in vitro (em tubos de ensaio) pode ter sido um artefato de laboratório, causado por um marcador fluorescente usado nos testes e não pela molécula em si. Para completar, pesquisas mais recentes descrevem o resveratrol como “altamente adaptável”, ligando-se a mais de 100 alvos moleculares diferentes, o que torna improvável que sua vasta gama de efeitos se deva exclusivamente à ativação da SIRT1.
A queda do resveratrol como um “ativador mágico” da SIRT1 não diminui sua importância. Pelo contrário, ela ilustra a beleza do processo científico: uma hipótese elegante e simples deu lugar a uma realidade muito mais complexa e intrigante, forçando-nos a olhar mais fundo para seus verdadeiros mecanismos. Mito 2
Perguntas e Respostas
A controvérsia surgiu porque a ativação da SIRT1 pelo resveratrol foi observada in vitro apenas quando a enzima era testada em um substrato acetilado ligado a um núcleo fluorescente (Fluor-de-lys
Estudos mais recentes em camundongos e no modelo experimental de zebrafish adulto tipo selvagem, sem estresse ou injúria, não detectaram modulação na expressão gênica da SIRT1 após o tratamento com resveratrol
O mecanismo de ação do resveratrol é considerado muito mais complexo do que se pensava inicialmente, e sua atuação não parece ser tão simples como sugerido pelo mecanismo dependente de SIRT1.
Sugere-se que o composto pode modular, indiretamente, a atividade da SIRT1, e a regulação desta sirtuína pode acontecer em três níveis: transcricional, pós-transcricional e traducional
Referências
1. SCHIRMER, H.; SOUTO, A. A. et al. Análise do padrão transcricional de sirtuínas influenciado por trans-resveratrol, etanol e restrição calórica utilizando modelo de zebrafish (Danio rerio). Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Porto Alegre, 2011. (Fonte do diferencial em saudável).
2. PACHOLEC, M.; BLEASDALE, J. E. et al. SRT1720, SRT2183, SRT1460, and resveratrol are not direct activators of SIRT1. J Biol Chem, v. 285, n. 11, p. 8340-51, 2010. (Estudo que define resveratrol como “altamente promíscuo” com mais de 100 alvos, não sendo específico para ).
3. BEHER, D.; WU, J. et al. Resveratrol is not a direct activator of SIRT1 enzyme activity. Chem Biol Drug Des, v. 74, n. 6, p. 619-24, 2009. (Estudo que questiona a ativação de pelo resveratrol em substratos não fluorescentes).
4. KAEBERLEIN, M.; McDONGH, J. et al. Substrate-specific activation of sirtuins by resveratrol. J Biol Chem, 280(17): 17038-45, 2005. (Menciona que a ativação da é um artefato quando testada com peptídeo marcado com fluoróforo).
5. WALLE, T. Methylation of dietary flavones greatly improves their hepatic metabolic stability and intestinal absorption. Mol Pharm, v. 4, n. 6, p. 826-32, 2007. (Referência sobre a baixa biodisponibilidade e rápida metabolização).
6. BOOCOCK, D. J.; FAUST, G. E. et al. Phase I dose escalation pharmacokinetic study in healthy volunteers of resveratrol, a potential cancer chemopreventive agent. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev, v. 16, n. 6, p. 1246-52, 2007. (Estudo clínico que demonstra baixas concentrações plasmáticas de mesmo após altas doses).
7. CROWELL, J. A.; KORYTKO, P. J. et al. Resveratrol-associated renal toxicity. Toxicol Sci, v. 82, n. 2, p. 614-9, 2004. (Alerta sobre nefrotoxicidade em altas doses crônicas).
8. MUKHERJEE, S.; DUDLEY, J. I. et al. Dose-dependency of resveratrol in providing health benefits. Dose Response, v. 8, n. 4, p. 478-500, 2010. (Menciona que os efeitos são dose-dependentes, podendo ser em doses baixas ou em doses altas).